Os estúdios de CrossFit realmente viraram febre por aqui. Tanto que, em 2016, o Brasil já estava em segundo lugar no ranking mundial de número de boxes da modalidade, perdendo apenas para os Estados Unidos, de acordo com o levantamento do site Ativo. O motivo de tanto sucesso é por se tratar de um método que mescla movimentos do treinamento militar com exercícios funcionais dinâmicos e de alguns esportes olímpicos. O resultado é uma aula desafiadora e sem monotonia, que trabalha o corpo todo de 40 min a 1 h.
“O CrossFit atrai alunos que buscam o ganho de massa magra (hipertrofia), condicionamento físico e também aqueles que querem perda de peso, por apresentar resultados estéticos rápidos. Além disso, a prática garante mais saúde e disposição no dia a dia”, fala o professor de educação física e head coach Thiago Martinez, do CrossFit Dádiva, em São Paulo (SP).
Mas, se por um lado as aulas sempre sugerem novos desafios e muita motivação, por outro, apresentam grandes riscos de lesões. Foi isso o que constatou um estudo publicado em 2013 pela revista norte-americana sobre treinamento de força, a Journal of Strength and Conditioning Research. Segundo os dados, dos praticantes de CrossFit pesquisados, 73,5% tiveram algum tipo de lesão, principalmente nos ombros e na coluna. E 7% deles foram submetidos a cirurgias. Com isso, a modalidade foi comparada a esportes mais “brutos”, como halterofilismo e rúgbi.
CrossFit para todos?
Não há um consenso sobre isso. O médico ortopedista Antonio Alexandre Faria, da Cotesp Medicina Esportiva, em São Paulo (SP), não recomenda a modalidade para pessoas com hérnia de disco, compressão discal, cardíacas, hipertensas, com problemas de dores e desgastes nas articulares nos ombros, quadril e joelhos. “O CrossFit é uma atividade que deve ser evitada por grupos de risco, pois não permite o controle da intensidade do treino”, alerta o médico ortopedista.
O personal trainer Wesley Pereira Paixão, de Brasília (DF), coloca que essa aula também não deveria ser indicada para pessoas que possuem algum tipo de limitação ou mecanismos de lesões: “Se a pessoa entorta joelho, tornozelo ou quadril durante um agachamento, por exemplo, não deveria praticá-la. Esse tipo de descompensação pode causar desgastes nas articulações, gerando lesões com o passar do tempo”, explica o preparador físico, que também é especialista em prescrição de exercícios para grupos de risco. Nesse caso, ele orienta que a pessoa faça primeiro um trabalho para corrigir o problema, com aulas de Pilates e ioga, a fim de alongar e fortalecer estruturas do corpo.
No entanto, o head coach Thiago Martinez lembra que alguns boxes de CrossFit oferecem avaliação física periódica para detectar esses problemas estruturais e orientar o preparo do aluno para evitar lesões. Mas concorda que isso não acontece na maioria deles. Pessoas sedentárias que desejam sair dessa condição se aventurando no CrossFit também exigem atenção redobrada: “As aulas misturam muita repetição, velocidades altas e carga. Sem preparo, pode ocorrer uma lesão”, fala Wesley. E é por isso mesmo que Thiago reforça a ideia de buscar uma academia de CrossFit com professores que orientem o aluno de forma individual. “Primeiro, eles vão passar exercícios de fortalecimento e alongamento, e só depois ensinarão a técnica de execução para que o movimento seja realizado direito e com consciência”, explica o head coach.